29/01/11

gripe a - resistir a ela e vencer-la





em matéria de gripe A, que eu já venci, vocês ainda são uns leiguinhos. se não lerem este texto, como é vosso timbre nunca ler nada,  jamais dominarão os pormenores técnicos e científicos de patologia molecular de combate à pior doença que existe hoje ao nível pan-mundial.

para quem não sabe, vocês todos por exemplo, existem quatro estirpes de gripe comummmente apelidada de "a". o h1n1, o h2n3, a influenza A e a nova estirpe suína, que foi a que me foi imposta. isto foi retirado da análise sanguínea que efectuaram em meu sangue:


Pesquisa de Vírus H1N1 (PCR)


(Polimerase Chain Reaction)


Influenza A* Negativo


Influenza A H1N1 (sazonal) Negativo


Influenza A H3N2 (sazonal) Negativo


Influenza A H1N1 (nova variante suina) Positivo


* Inclui os seguintes subtipos:


sazonal H1N1, sazonal H3N2, H1N2, H7N7 e H9N2.

em lendo o meu testemunho, se o pior também vos acontecer, ficarão equipados para, como eu, resistir e vencer este flagelo pessoal.



FASE 1 - A INFORMAÇÃO

esta fase não tem muito assim que saber, é quando chegam os resultados das análises. mas é muito importante porque se não soubermos não sabemos o que fazer com a informação de que não sabemos. podemo-nos  colocar numa situação de perigo pandérmico a nós e a toda a gente que amamos (ou que, sem amar, fazemos amor - porque é contagiante!)



FASE 2 - A NEGAÇÃO


é um mecanismo de defesa temporária do ego face à dor psíquica diante da doença. partilhar charros e batons do cieiro, tossir para cima das crianças, escarrar para as mãos antes de cumprimentar alguém, passar meia hora no elevador até embaciar o espelho, continuar a jogar bem à bola compensando em contacto físico o que nos falta em pulmão, que a doença de bilita, são comportamentos de quem quer provar à vidêcia que houve  um quívoco qualquer e as análises estavam trocadas.




FASE 3 - A RAIVA


O nosso ego foi inventado de forma a não aguentar a negação por muito tempo. acresce a isto o facto dos comportamentos da fase anterior bilitarem bastante o nosso corpo. e parecendo que não, através de intrincadas ligações que não importa agora explicar, isto reflecte-se na mente. é aqui que chega o "porquê a mim, caralho, porquê?" ou o "porque é que não tenho só um cancro na bexiga?" ou ainda o "com tanta gente ruim para morrer, porquê eu que sempre fiz bem o bem e fui honesto para as pessoas todas? porque é que não morrem mais políticos ou homossexuais do teatro, ou pessoas mais pobres?". enfim,  começamos a olhar toda a gente de lado e a insultar bastante as pessoas, como forma de estimular as defesas do nosso organismo.




FASE 3,5 - A ACEITAÇÃO (também conhecida em certas localidades por fase da barganha)


havendo deixado de lado a negação , “percebendo” que a raiva também não resolveu, a pessoa entra no terceiro estágio e meio: a barganha. a maioria destas barganhas é feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.
como dificilmente a pessoa tem alguma coisa a oferecer a Deus, além de sua vida, e como Este parece estar com vontade de nos a arrancar, quer a pessoa queira ou não, as barganhas assumem mais ou menos as características de súplicas.
a pessoa implora que Deus aceite sua “oferta” em troca da vida, como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada à igreja, à caridade, à não frequência tão frequente de prostitutas, drogas, enfim as mentiras que pudermos e nos lembrarmos nestes momentos difíceis.
na realidade, a barganha é uma tentativa de adiamento. nesta fase devemo-nos manter serenos, reflexivos e dóceis (não se pode barganhar com Deus, ao mesmo tempo em que se hostiliza pessoas). depois cansamo-nos de barganhar sem ter lá grandes respostas para nada, começamos a tomar o tamiflu e o klacid e o fluimicil e passamos à fase seguinte




FASE 4 - A NEGAÇÃO DA ACEITAÇÃO



como Deus normalmente não atende (vi de capítulo anterior), passadas umas horas paramos de barganhar. aqui já estamos com uma debilidade física acentuada e voltamos para a agressão. já não é uma agressão como na fase da raiva. é uma agressão contra móveis, pratos, o nosso fígado e os pulmões.
no meu caso em particular, esta fase ficou caracterizada por frases como "eu quero é que enfiem a merda da canja de galinha no cú e me dêem uma aguardente" ou "doutora, apetecia-me fazer-lhe uma estetoscopia" (para quem não sabe, uma estetoscopia consiste no enfiamento das extremidades auriculares de um estetoscópio normal na cona e no cú de alguém e bater com a parte redonda que ausculta numa mesa com muita força, obtendo-se uma reverberação que excita vagina e ânus com intensidades idênticas, provocando o prazer).




FASE 5- A ACEITAÇÃO DA NEGAÇÃO DA ACEITAÇÃO


É um prolongamento da fase anterior, mas mais agressiva, consequência do isolamento. abandonam-se as ideias de estetoscopias e passam a matar-se animais (apanhei muitas moscas que estavam moles e lentas derivado ao tempo e comi-as, só para dar um exemplo e não estar a falar aqui de pássaros). tranca-se a empregada na despensa e cria-se-lhe um clima de terror estilo shining (abrir devagarinho a porta e mostrar uma faca do pão suja de merda). no meu caso, deu-se que a empregada chamou os bombeiros e aproveitei para apalpar e beliscar o cú a uma bombeira, em concomitância com alguns insultos (lembro-me do "com uma peida dessas como é que consegues correr atrás dos fogos, minha puta bombeira", etcetra).




FASE 6 - A CONFUSÃO (ou a não aceitação da negação da aceitação).


É usual nesta fase estarmos todos nús à varanda e à chuva, à espera que o vírus h1n1 - nova estirpe suína - acabe connosco. choramos e rimos a chorar. desistimos de lutar, já não temos qualquer preocupação com a nossa higiene, enfiamos os dedos em tudo o que é sítio. é o desespero, o suicídio do coração, o abandono e a abandalheira humana física. não gosto muito de falar desta fase porque é preciso muita coragem, mas eu tenho disso mais que vocês.




FASE 7 - O CONTACTO COM A MORTE, O HISTERISMO E A NEGAÇÃO DA NÃO ACEITAÇÃO DA NEGAÇÃO DA ACEITAÇÃO.


aqui estamos muito doentes e questionamos se ainda cá estaremos daqui a meia hora. é nesta altura que violamos tudo o que vem à mão (no meu caso, e com a empregada trancada já há dias, foi um frasquinho fresquinho de mimosa de morango).
depois de desintroduzir-me do vasilhame de plástico, tive um pensamento:

"mas a luz que habitava o meu ser parece que foi enterrada no limbo da escuridão, fazendo sofrer todos os que se cruzam comigo na minha vida."

na minha mente o breu faz-se constatemente como a podridão apodrece o fruto que ainda estava bom. alertei o meu coração para que jamais caminhe caminhos obscuros definitivamente arranquei por uma "estrada" (é uma metáfora, não é uma estrada a sério)  de luz e amor. depois fui lavar os dentes e deitei-me.

FASE 8 - A VICTÓRIA

Aqui recebemos as análises que confirmam o desaparecimento do vírus. sentimo-nos um tanto ou bastante superiores às outras pessoas e uma inspiração para quem mais precisa. é um novo começo porque começamos a considerar a hipótese de sermos a primeira pessoa do mundo a nunca morrer.




FASE  9 - O COMPLEXO DE PAULO RENATO SARAIVA

É uma espécie de recaída psicológica mas já é tarde, por isso leiam antes aqui.