30/05/10

duo cum faciunt idem, non est idem

a propósitos de nada, deixo-vos uns pensamentos do josé régio, pessoa com a qual ainda hoje costumo privar e partilhar centenas de charros enquanto falamos da vida geral, em vila do conde, ali numa mesa. o zé, quando está com a corda toda, gosta de dizer que, em arte, é vivo tudo o que é original.

a originalidade, como as conas e outros objectos piramidais com vulva, provém da parte mais virgem, mais verdadeira e mais íntima duma personalidade artística, seja isso aquilo que for, que nisto o zé perde um bocado a noção.

o zé rege-se por um princípio sacrado de que a primeira condição duma obra viva é ter uma personalidade e obedecer-lhe, pois então. isto exige (n.t.: egige, na região saloia) algum caparro ao artista, uma vez que não é só mandar cá para fora. é toda uma vida, ou, ainda mais, vinte e quatro sobre vinte e quatro, o que dá um, a ser coerente com a obra. o que é um verdadeiro bico de obra (n.t.: verdadeiro broche de obra, na margem sul).

ora como o que personaliza um artista é, ao menos superficialmente, o que o diferencia dos demais, (artistas ou não) certa sinonímia nasceu entre o adjectivo original e muitos outros, ao menos superficialmente aparentados; por exemplos: o adjectivo excêntrico, estranho, extravagante, bizarro.

no fundo, toda a originalidade calculada e astuciosa é falsa, não se cansa de demostrar por a+b (=c) o meu companheiro (n.t.: compicha, em cascais e nas linhas).

são pois, pixotas mortas os autores que pretendem ser originais sem personalidade própria. a excentricidade, a extravagância e a bizarria podem ser poderosas, lá isso podem sim senhor, - mas só quando naturais a um dado temperamento artístico, nunca a artolas, adverte-me sempre o josé.

sobre outras qualidades, o produto desses temperamentos terá o encanto do raro e do imprevisto, como a descrição do cheiro da chinesa e da lourinha do lost a comerem a cona uma da outra já depois de grávidas num barco à vela em pleno mar alto, por exemplo.

mas em temperamentos afectados, semelhantes qualidades não passarão dum peido muito pouco artístico, uma bufa tosca (eu vejo muita ópera, ao vivo).

para além disto, há que saber que o zé fuma mas não trova. e a expressão ali de cima, do título (n.t.: títlo, em portimão e no litoral algarvio em geral), é de chopin hour.e está escrito em latino (n.t.: no tempo em que se falava latino, "duo cum" nunca seria, aliás,  "esporradela dupla", até porque esse conceito só foi introduzido mais tarde, por martinho lutero e o seu irmão mais velho, o luís lutero, um nojento assuimidíssimo). é uma mensagem (o títlo, não se percam) que retraz-nos grandes ensinamentos.

quem quiser enfiar a caralhuça que o faça à vontade. olha, aquele boi que escreve para o ypsilon (n.t.: ipsen, em benfica, costa da caparica e nazaré) e que à boleia de bater dolces punhetas ao vincere, de marco bellocchio e ao io sono l'amore, de luca guadagnino, insiste doentia e obssessivamente em menosprezar o véro tchinema italiáno (n.t.: verdadeiro cinema italiano) dos anos oitenta, ele sim, originalmente excêntrico, vivo e vúlvico. mais que menos prezar, desqualifica-o cobardemente.
eu podia dizer que refresco no cú da pimenta é gelado e mandar o tal bovídeo enroscar um tornatore ferragento pela peida acima.

ou ir para a puta da terra dele criar viscontis (bichos de contas em italiano, pronuncia-se vishe-contis)

até dizer-lhe para ir lambuzar o escroto todo ao nino rota e isso.

mas o meu temperamento fez-me um apêlo ao sinlêncio e, de forma muito menos vulgar e vúlvica, mostar, apenas mostrar, aquilo a que aquele (n.t.: não é fácil dizer depressa "aquilacaquele" sem treinar muito) incapaz apelida de período negro (n.t.: menstruação putrefáctica, na fria linguagem da ginecologia) do país da europa que melhor cinema nos tem oferecido.

apetece-me gritar aos vinte ventos (é fácil dizer vinte ventos depressa) que não, não é assim.