alertada a minha consciência pelo blogue do maradona, fui espreitar o programa eleitoral do bloco de esquerda, esse aglomerado de sofistas cavilosos cantadores de vitórias antecipadas que andam para aí a tentar arranjar poleiro nas câmaras municipais mesmo depois do valente bochecho que o portas lhes pregou nas legislativas. fizeram a festa, pois fizeram, mas foi com a pilinha um bocadinho mais murcha que dançaram o sérgio godinho all night long.
para minha surpresa, o programa está bem esgalhado, embora sempre admitisse que dali poderiam vir coisinhas boas
dei por mim então a pensar que se estes rapazes se candidatassem cá na terra, não fariam da minha comunidade uma comunidade melhor, assim mais feliz. o manifesto está cheio de medidazinhas que davam aqui muito jeito:
o fim dos rodeos - todos os fins de semana há para aí uns seis rodeos à porta de minha casa. fazem um barulho do caralho até às tantas e de manhã é merda de cavalo por todo o lado.
promover os auto-cultivadores - porque o pessoal da agricultura já é um bocado velho para andar a cultivar a pé.
o enquadramento do estatuto do bailarino - dava jeito colocar num quadro bem visível (pode ser nas paragens de autocarro) a definição de bailarino (qualquer coisa como bicha que baila, ou assim) para as pessoas não andarem para aí a chamar-lhes os nomes que lhes apetece.
o ensino de linguagem gestual portuguesa - os putos, se querem mandar alguém para o caralho, devem fazê-lo com o dedo do meio estendido e os outros encolhidos, não é cada puto fazer como lhe apetece.
a eliminação do balde higiénico - ou pelo menos, a sua substituição de mês a mês. aqueles ali do jardim não são mudados desde o verão e agora só lá vai quem está mesmo à rasquinha.
o fim dos electrodomésticos que não sejam classe A - os meus são todos, mas faz-me sempre impressão ir beber uma cerveja a casa de um amigo e o gajo abrir o frigorífico classe B. parece que não vêm bem fresquinhas.
fim do uso de animais nos circos - nós aqui também já estamos um bocado fartos do circo ser sempre a mesma merda dos elefantes e dos tigres. uma vez veio cá um circo só de anões e o que a malta se riu.
a rede de corredores dedicados aos modos suaves - que é para os rabetas irem na faixa deles a conduzir devagarinho e um gajo não ter de fazer uso da linguagem gestual portuguesa a toda a hora para poder passar.
a reabilitação das zonas uraníferas - para mim uma acção decisiva para o bem estar do meu concelho, que já só tem zonas uraníferas empobrecidas onde nem sequer se pode fazer um pic nic sem ficar a cagar verde durante quinze dias.
a proibição da criação de chinchilas - sobretudo nas varandas aqui do prédio. embora eu goste muito de arroz de chinchila, não merece a chatice de andarem a cruzar esquilos com ratos, ou lá o que é.
o combate à cartelização dos retalhistas - os retalhistas daqui têm plantações de retalho disfarçadas de girassóis. vivem à grande, usam fatos brancos e óculos escuros e têm brutas mulheres, mas ninguém acredita que aquela riqueza toda venha dos girassóis. toda a gente sabe que mandam pessoal para os aeroportos com o retalho no cú para depois o venderem muito mais caro em miami e isso. muitos morrem porque o retalho dissolve-se, outros ficam tão agarrados ao retalho que nem queiram saber e há até mulheres que se prostituem por um bocado de retalho.
todas estas medidas (e mais os ovos free-range) constam do dito programa e quase me fariam colocar uma valente cruz à frente do símbolo do bloco no dia 11. e digo quase porque, em primeiro lugar, o bloco não se veio cá candidatar a nada e, em segundo, porque há uma verdade insofismável da qual nunca me esqueço: