24/09/09

stand up comedy



há aqui um bar ao pé de casa que, de mês a mês, promove esta coisa do stand-up comedy. há muitos comediantes em pé a ganhar a vida por aí, o dono já vai na décima quarta edição e as pessoas aderem e acham muita graça, eu é que nunca tive oportunidade de ir a nenhum e só conhecia o seinfeld mas hoje prometi que ia e fui, como idealista que sou. quando lá cheguei, nada de comediante, mas as mesas todas ocupadas e, segundo me disseram, previamente reservadas. as pessoas fazem fila para se rir. haviam gordas, carecas, um preto, um par de notáveis mariquinhas e muita gente com gel. vida difícil para o comediante, pensei logo no pagliacci do watchmen, quem não viu ou leu que vá ver ou ler. chegou o artista, nervoso como adivinhei, graçolas sobre panilas esquece, gordas é impossível e o preto vai-me aos cornos que é um instante. o gajo toca de fixar o olhar em mim e depositar-me a puta da responsabilidade de me tornar o barómetro do seu impacto e do seu sucesso impossível. tentativas de piadas sobre telemóveis e sobre cornos, que esses ninguém os detecta e muito menos se acusam, e eu a sustentar o ego de um gajo seco e transpirado ao mesmo tempo, ninguém se ria, o olhar do rapazola era um pedido de socorro ao segundo, aguentei a primeira aguardente, ensaiei uns esgares mas aquilo continuava muito mais stand-up do que comedy, o público insistia no silêncio, as gordas não batiam palmas às piadolas que não eram sobre gordas, o preto não estava a gostar da brincadeira e os rabetas bebiam mojitos e fumavam cigarros com filtro branco. dou mais uma aguardente de benefício ao homem, que não tira os olhos de mim, aquele socorro teimoso nas pupilas, aquele silêncio ensurdecedor na plateia, só entrecortado pelo risinho estilo "eu precebi e isto é cagar a rir só que a malta não precebe" do gajo que vivia mais longe e vinha de preto com ténis brancos. fugi sem me despedir, mas se o comediante perceber alguma coisa de semiótica irá para casa um pouco menos derreado. o meu último olhar foi de dó. mas um dó maior, por respeito e por não gostar de ver ninguém a sofrer por obrigação. desde pequenino que sou assim. e, para mim, uma anedota para ser boa tem de se passar num bar de lésbicas.